Refutação à luta de classes – Parte 1

Publicado: novembro 13, 2013 em Marxismo

O conceito de luta de classes é uma das teorias mais enfáticas na obra de Marx. Este conceito baseia-se no pensamento de Rousseau que serve de pilar para todo o pensamento socialista. Segundo Rousseau, na sociedade original (tribal) não havia propriedade ou classe social, e por isto não havia conflitos. Os homens eram iguais e conviviam em paz e harmonia. Neste período, todos participavam do processo produtivo e deste modo, não havia excedentes. Entretanto, quando as forças produtivas adquiriram certo nível de produtividade, no qual, o excedente promovia maior segurança à sociedade em relação às suas necessidades, tivera início a separação entre classes e o surgimento das hierarquias. O controle sobre o excedente gerou um jogo de interesses no qual uma pequena minoria passou a se apropriar dos meios de produção, assim controlando os excedentes e os demais membros da sociedade. Contudo, na medida em que a classe dominada percebe esta exploração, passa a combater a classe dominante que usa de todos os meios para permanecer no poder e assim emerge a luta de classes.

Segundo Marx, as tensões entre explorados e exploradores sempre foram constantes ao redor dos tempos, assumindo com frequência um caráter subversivo violento. A luta de classes seria uma condição da sociedade hierárquica e que culmina de tempos em tempos na força motriz das grandes revoluções. Portanto, é algo capaz de descrever a evolução histórica através da ascensão e queda de uma classe sobre outra. Para Marx sem oprimidos e opressores não haveria motivo para grandes revoluções. E é a partir da libertação de uma classe oprimida que ocorre a formação de uma nova sociedade. Marx dá o exemplo da Revolução francesa, no qual a burguesia encabeçara uma luta contra o feudalismo a fins de se tornarem a classe dominante. Graças às ações violentas como a tomada da Bastilha, fora possível a ascensão da burguesia, o que a tornara a nova classe elitista e opressora. Através da mais-valia, os burgueses detentores dos meios de produção, estariam explorando o proletariado cujo único alento seria um mísero salário.

O filósofo sugere que para a libertação da classe oprimida é necessário que as forças produtivas deixem de estar sob o domínio dos exploradores. Todavia, não bastaria somente desapropriar aqueles que detêm os métodos de produção através de uma revolução violenta, visto que estes não se destituiriam de suas posses, mas eliminar toda a propriedade privada, dando fim ao antagonismo de classes. Esta seria a revolução derradeira que tornaria todos comuns, corrigindo o curso histórico abalado pelos abusos das classes dominantes. A partir de então todos os homens seriam iguais, viveriam em paz e nenhum teria mais que o outro. Para definir a luta de classes, Marx cita: “Somente numa ordem de coisas em que não existam mais classes e antagonismos entre classes, às evoluções sociais deixarão de serem revoluções políticas. Até lá, às vésperas de cada reorganização geral da sociedade, a última palavra da ciência social será sempre: o combate ou a morte: a luta sanguinária ou nada. É assim que a questão está irresistivelmente posta”.

A partir de uma visão superficial da história, a luta de classes é uma ideia atraente e revolucionária. A primeira vista, ela resolveria todos os problemas da humanidade. Todavia quando analisamos este conceito profundamente, seja no que tange a história ou as teorias econômicas que a permeia, entendemos o quão equivocado é este conceito. A teoria da luta de classes faz uso do método equivocado de Marx; o materialismo histórico e dialético, que visa analisar a sociedade tendo como base, somente os métodos de produção. Este modelo analítico descarta diferenças históricas, culturais, políticas e econômicas, focando-se somente em uma suposta relação entre empregadores e trabalhadores. Não consiste em uma análise capaz de compreender a sociedade de modo geral, nem tão pouco do contrário: capaz de discernir a sociedade a partir do ponto de vista individual. Segundo o método de Marx o homem é fruto de como produz, sem que possua qualquer voluntariedade ou objeções pessoais. Seus pensamentos e ações seriam meramente orientados pela classe em que pertence – o que Marx chama de consciência de classe.

Para Marx, os indivíduos agem de acordo com a consciência da classe, que por sua vez reflete os interesses da mesma. Segundo esta condição, os homens não possuem mentes autônomas com objetivos distintos, mas seres inclinados às mesmas pretensões. Um burguês estaria somente interessado em acumular capital e explorar os trabalhadores, enquanto os proletários visariam sua emancipação – uma vez conscientes da exploração. Mediante esta suposta consciência coletiva de classes, o conflito de poderes e interesses comuns seria inevitável. A partir deste nítido reducionismo, Marx visa justificar a revolução comunista, sem que fosse capaz de explicar o porquê dos indivíduos darem maior atenção aos interesses de uma classe que aos próprios. Além disto, porque os proletariados uma vez conscientes das teorias de Marx não abraçaram suas ideias? Porque burgueses como Marx e Engels, que nunca trabalharam em sua vida, seriam capazes de compreender o pensamento da classe proletária tanto quanto estes trabalhadores sofridos?

Uma das mais contundentes refutações ao conceito de luta de classes fora escrito por Mises em sua obra A Mentalidade Anticapitalista. Segundo Mises, o erro fatal de Max é confundir o conceito de classe com status (ou casta). Mises descreve: “Numa sociedade baseada em status, a situação de vida do indivíduo é fixada. Ele nasce em certa categoria e sua posição na sociedade é rigidamente determinada pelas leis e costumes que designam para cada membro de sua classe privilégios e deveres ou incapacidades definidas”. Neste modelo a ascensão de um indivíduo de uma classe a outra é extremamente rara. Aquele nasce num sistema como este, estará destinado a viver dentro das limitações impostas, passando este estigma de geração em geração, de tal modo que sua condição apenas melhorará uma vez que haja mudança para a condição de todos os membros de sua casta. Neste sentido a melhoria das condições da casta pressupõe um interesse comum, embora cada indivíduo tenha dentro deste interesse, a visão da melhoria das próprias condições. É um sistema que exclui o mérito individual frente às condições de nascimento.

Para Mises, o progresso da sociedade depende da eliminação da sociedade de status em função da igualdade diante a lei: “A abolição dessas instituições (castas) e o estabelecimento do princípio de igualdade perante a lei removeram as barreiras que impediam a humanidade de desfrutar de todos os benefícios que o sistema de propriedade privada dos meios de produção bem como de empresa privada torna possível”. Neste sistema, a condição socioeconômica de cada membro é volátil. Pobres podem ascender para uma classe superior devido a seu empreendedorismo, enquanto ricos tem que se esforçar para manter seu patamar. Tais mudanças ocorrem mediante decisões diárias em cada situação econômica, seja na preservação de capitais em poupança, em um investimento resultante destas reservas, na compra ou venda de bens, ao aceitar ou negar determinado emprego. Cada tomada de decisão é importante para os indivíduos que participam do processo produtivo, guiados pelos seus interesses, movendo-os de um patamar a outro. Uma vez que não existe classe fixa, a luta de classes é falaciosa.

Referências:

Karl Marx – O Manifesto do Partido Comunista

A Mentalidade Anticapitalista – Ludwig Von Mises

Clipboard01Karl Marx fizera uma associação estúpida entre a sociedade moderna e a idade média, tal como dividira a uma mesma classe a fins de criar uma dicotomia indevida.

Christiano di Paulla

Continuação: https://resistenciaantisocialismo.wordpress.com/2013/11/13/refutacao-a-luta-de-classes-parte-2/

comentários
  1. […] Continuação: https://resistenciaantisocialismo.wordpress.com/2013/11/13/refutacao-a-luta-de-classes/ […]

  2. […] A teoria da luta de classes faz uso do método equivocado de Marx, o materialismo histórico e dialético, que visa analisar a sociedade tendo como base somente os métodos de produção. Este modelo analítico descarta diferenças históricas, culturais, políticas e econômicas, focando-se somente em uma suposta relação entre empregadores e trabalhadores. Não consiste em uma análise capaz de compreender a sociedade de modo geral, nem tão pouco do contrário: capaz de discernir a sociedade a partir do ponto de vista individual. Segundo o método de Marx o homem é fruto de como produz, sem que possua qualquer voluntariedade ou objeções pessoais. (di Paulla, 2013 — link) […]

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